CUIDADOS COM A PRÉ E PÓS FLORADA DO CAFÉ
“Meu cafezal em flor, quanta flor, meu cafezal…”, famosa música de Cascatinha e Inhana deixa claro para nós o quão importante e especial é a florada do cafeeiro. A lavoura toda enfolhada, com flores brancas e um aroma agradável, nos leva acreditar que será um ano de boa safra e que “esse ano a lavoura veste o dono”. A época da florada é crítica para a determinação do potencial produtivo da lavoura de café. De modo geral, quanto mais nós nos ramos produtivos, maior quantidade de flores pode surgir. Quanto mais flores, mais frutos o cafeeiro deve produzir no ano agrícola.
Devemos observar que até a colheita, muita coisa pode ocorrer, como por exemplo: déficit hídrico, aparecimento de pragas e doenças, nutrição desequilibrada, dentre outros fatores que podem atrapalhar a produtividade.
Embora a florada seja muito bela, deixando a lavoura toda branca, sabemos que nem sempre é um bom sinal. Quando as flores ficam muito visíveis, isso indica que as plantas estão pouco enfolhadas. Se temos poucas folhas, temos menor área fotossintética, ou seja, área foliar na planta, portanto, menos suprimento aos grãos. No fim das contas, o pegamento daquelas flores que estão aparecendo não será tão alto e a produção de Café será menor. Precisamos ficar atentos ao manejo assertivo do cafeeiro.
Os cuidados com as principais doenças da florada devem ser priorizados. As principais doenças da florada do Café são: a mancha-de-phoma, causada por fungos do gênero Phoma; e a mancha-aureolada, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. Garcae.
São diversos órgãos atacados e sintomas distintos na planta. As doenças quando instaladas no cafeeiro podem impactar diretamente na produção, pois causam a morte ascendente dos ramos produtivos e a mumificação dos chumbinhos no pós-florada. Elas aumentam em temperaturas amenas e alta umidade. Portanto, regiões com essas condições, podem apresentar maior incidência e mais problemas no controle.
Podemos citar algumas formas de controle para colaborar junto ao cooperado no manejo dessas doenças. Geralmente, o controle químico é utilizado para essas duas doenças. Em áreas onde as condições são favoráveis para o desenvolvimento delas, o controle deve começar na pré-florada, já no outono-inverno, de forma preventiva. Sempre atentos à hora de realizar a aplicação, verificando temperatura, ventos, umidade, orvalho nas folhas. Como o cafeeiro pode apresentar várias floradas, esse controle deve seguir até a fase de chumbinho para uma boa proteção no pós-florada. Vale ressaltar que a frequência de aplicações irá depender do monitoramento, do residual do fungicida utilizado e das condições de cada lavoura. As aplicações devem visar a pré-florada, para atingir os botões florais e o pós-florada, quando as pétalas já caíram, a fim de proteger os chumbinhos que virão. Devemos evitar a aplicaçãocom as flores presentes, pois as pétalas impedem que o fungicida atinja o alvo adequadamente, fazendo o efeito “guarda-chuva”
O cafeeiro deve estar equilibrado nutricionalmente, sem excesso e desequilíbrios entre N (nitrogênio) e K (potássio). Só esse cuidado já reduz a incidência de várias doenças, como por exemplo a cercosporiose e phoma. Vale lembrar que a fase reprodutiva, mais especificamente a frutificação, exige atenção especial quanto à nutrição, pois é a fase de maior demanda do cafeeiro. Devemos ficar atentos ao fornecimento de nutrientes na hora certa. Com a chegada das chuvas, começa a florada do Café, portanto isso depende da região de cultivo, podendo ser mais precoce ou mais tardia. Assim, a chegada da chuva marca o início da fase reprodutiva da planta e o momento correto da adubação é anterior à florada. Os produtores que possuem irrigação devem ficar atentos a uniformização da florada do Café, fazendo o controle correto da irrigação. A abertura e uniformidade da florada, o pegamento e a boa frutificação são totalmente dependentes de água.
É também na fase reprodutiva que temos a maior demanda do cafeeiro por água (evapotranspiração). Em lavouras irrigadas, onde há o controle ajustado sobre aquantidade de água aplicada, temos oportunidade de interferir na irrigação, visando maior potencial produtivo e uniformidade da florada.
A ideia principal é diminuir ou suspender a irrigação nos meses de inverno, visando uniformizar a maturação das gemas florais. Após esse período, retornamos com a irrigação, mantendo-a durante a frutificação. Com o controle correto da uniformização, a planta e a abertura floral ficam uniformes, evitando vários fluxos de floração por conta de chuvas espalhadas. Lembre-se que podem ocorrer chuvas que interfiram nesse processo. Ainda assim, o controle da irrigação pode trazer bons resultados.
Com a continuidade da irrigação, garantimos um melhor
pegamento e enchimento dos grãos de Café. Por isso, os produtores de Café irrigado têm a oportunidade de conseguir um Café de mais qualidade e uniforme, com omesmo custo de produção, apenas regulando a irrigação.
Podemos notar que mesmo antes das flores aparecerem, o produtor tem que estar atento e atuar preventivamente,
principalmente em áreas que favoreçam a incidência de doenças como phoma e mancha-aureolada. A irrigação e
adubação podem ser diferenciadas na época da florada e visam a obtenção de melhores colheitas e eficiência. Com um bom manejo na florada do Café, a possibilidade de se ter uma lavoura saudável e produtiva é maior.
TÚLIO PIRES
Consultor Agronômico Capebe Cristais
